Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

10 de novembro de 2011

Xavier de Carvalho : Amor de femeas


Amavam-se. E que longo amor tinham as duas,
quando no leito, a sós, ambas se viam nuas,
ao romper da manhã!...

Os corpos brancos de uma alvura de nevoeiro,
apetitosos como os frutos em Janeiro
e os seios num contorno iricute de romã…

Enlaçavam depois os corpos. Boca a boca.
trocavam docemente os mais velhos beijos,
numa febre de amor, numa ternura louca,
entre gritos de sangue e ardência dos desejos.

Noites brancas! Na sede ardentíssimo do gozo,
que frémitos! Da carne o insaciado ardor
rói o sexo que explui, a crepitar, furioso,
injectado de amor.

Xavier de Carvalho
(Portugal 1861-1919)

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