18 de março de 2012

A inegualável : Mário Sá-Carneiro

Ai, como eu te quero toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos longos de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...

E tão febril e delicada
Que não pudesses dar um passo -
Sonhando estrelas transformada
Com estampas de cor no regaço...

Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...

Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata -
Teus frenesis lantejoulas
E os ócios em que estiolas,
Mar que desbarata...

Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos de seda...

Água fria e clara nua noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim.


Mário Sá-Carneiro 
"Portugal 1890-1916"
in 366 poemas que falam de amor
Org: Vasco Graça Moura
Editor: Quetzal Editores

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