Ela
tinha uma cintura bem torneada
cadeiras
cheias
e
caçava os machos nos arredores da Madeleine.
pelo
seu jeito de me dizer: Meu anjo
te
apeteço?
eu
vi logo que se tratava de uma debutante.
Ela
tinha talento, é verdade, eu o confesso.
Ela
tinha gênio,
mas
sem técnica um dom não é nada.
Certamente
não é tão fácil ser puta como ser freira,
pelo
menos é o que se reza em latim na Sorbonne.
Sentindo-me
cheio de piedade pela donzela
ensinei-lhe
os pequenos truques de sua profissão
e
ensinei-lhe os meios para fazer logo fortuna
rebolando
o lugar onde as costas se assemelham à lua,
Porque
na arte de fazer o trottoir, confesso,
o
difícil é saber mexer bem a bunda.
Não
se mexe a bunda da mesma maneira
para
um farmacêutico, um sacristão, um funcionário.
Rapidamente
instruída por meus bons ofícios
ela
cedeu-me uma parte de seus benefícios.
Ajudavamo-nos
mutuamente, como diz o poeta:
ela
era o corpo, naturalmente, e eu a cabeça.
Quando
a coitada voltava para casa sem nada
dava-lhe
umas porradas mais do que com razão.
Será
que ela se lembra ainda do bidê com
que
lhe rachei o crânio?
Uma
noite, por causa de manobras duvidosas
ela
caiu vítima de uma doença vergonhosa,
então,
amigavelmente, como uma moça honesta
passou-me
a metade de seus micróbios.
Depois
de dolorosas injeções de antibióticos
desisti
da profissão de cornudo sistemático.
Não
adiantou que ela chorasse e gritasse feita louca
e,
como eu era apenas um canalha, fiz-me honesto.
Privado
logo de minha tutela, minha pobre amiga,
correu
a suportar as infâmias do bordel.
Dizem
que ela se vendeu até aos tiras!
Que
decadência!
Já
não existe mais moralidade pública
na
nossa França!
Georges
Brassens
(França
1921-1981)
Sem comentários:
Enviar um comentário