Por que tardas, Jatir, que
tanto a custo
À voz do meu amor moves teus
passos?
Da noite a viração, movendo as
folhas,
Já nos cimos do bosque
rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira
altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas
brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre
flores.
Do tamarindo a flor abriu-se,
há pouco,
Já solta o bogari mais doce
aroma!
Como prece de amor, como estas
preces,
No silêncio da noite o bosque
exala.
Brilha a lua no céu, brilham
estrelas,
Correm perfumes no correr da
brisa,
A cujo influxo mágico
respira-se
Um quebranto de amor, melhor
que a vida!
A flor que desabrocha ao romper
d’alva
Um só giro do sol, não mais,
vegeta:
Eu sou aquela flor que espero
ainda
Doce raio do sol que me dê
vida.
Sejam vales ou montes, lago ou
terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou
noite,
Vai seguindo após ti meu
pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu,
sou tua!
Meus olhos outros olhos nunca
viram,
Não sentiram meus lábios outros
lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não
as tuas
A arazóia na cinta me
apertaram.
Do tamarindo a flor jaz
entreaberta,
Já solta o bogari mais doce
aroma
Também meu coração, como estas
flores,
Melhor perfume ao pé da noite
exala!
Não me escutas, Jatir! nem
tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão
te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito
inútil
A brisa da manhã sacuda as
folhas!
Gonçalves Dias
Brasil 1823-1864
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