30 de setembro de 2011

Pensei morrer: Pablo Neruda

Pensei morrer, senti de perto o frio,
e de quanto vivi só a ti eu deixava:
tua boca era o meu dia e minha noite terrestres
e a tua pele a república fundada por meus beijos.
Nesse instante acabaram os livros,
a amizade, os tesouros sem trégua acumulados,
a casa transparente que tu e eu construímos:
tudo deixou de ser, menos os teus olhos.
Porque o amor, enquanto a vida nos acossa,
é simplesmente uma onda alta sobre as ondas
mas ai quando a morte nos vem tocar à porta
só existe o teu olhar para tanto vazio,
só a tua claridade para não seguir sendo,
somente o teu amor para encerrar a sombra.

in Pablo Neruda - Cien sonetos de amor e una canción desesperada
(Chile 1904-1973)

Sem comentários:

Enviar um comentário