30 de setembro de 2011

Sete sonetos de visão perpétua: Jorge de Sena


E, todavia, eu não quisera amar-te.
Mas ter-te, sim de todas as maneiras.
Quem és e como és, de quem te abeiras,
que dizes ou não dizes, pouco importa.

E muito menos hoje me conforta.
Neste sorriso que te dou tranquilo,
eu ponho num remorso tudo aquilo
que em fundo amor eu pudera dar-te,

se alguma vez te amasse de amor fundo
senta-te à luz do mar, à luz do mundo,
como na primeira vez em que te vi,

tão jovem, que era crime contemplar-te.
E despe-te outra vez, pois vem olhar-te
Quantos te buscam de saber-te aqui.

 Sendo um de tantos, nunca te perdi.


Jorge de Sena
(Portugal 1919-1978)
photo by Google




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