21 de novembro de 2011

Desperta-me de noite

Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas



O sono em que me deito
pois suspeitas
que com ele me visto
e me defendo


É raiva
então ciúme
a tua boca


É dor e não
queixume
a tua espada


É rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas



E tomas-me à força
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se trespasse


E queres-me de amor
e dás-me
o tempo

A trégua
A entrega
O disfarce

E lembras os meus ombros
docemente
na dobra do lençol que desfazes

na pressa de teres o que só sentes
e possuires o que não sabes

Desperta-me de noite
com o teu corpo


Tiras-me do sono
onde resvalo

E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite


E tu dentro de mim
vais descobrindo vales.


Maria Teresa Horta in As Palavras do Corpo
(Portugal)
photo by Google

Sem comentários:

Enviar um comentário