20 de maio de 2012

Feiticeira: Delfim Guimarães

Nunca lhe confessara o amor ardente
Que ela em mim despertou, mal eu a vira;
Escondia-o no peito, avaramente,
Receando que alguém mo descobrira.

Guardava-o p'ra comigo unicamente...
Arrancar-mo? Ninguém conseguira!
Dizer-lho a ela? Nem sequer à mente
Essa ideia, confesso, me acudira.

Mas certo dia, em seu olhar doce
Vi fugir um clarão, o quer que fosse
Que me intrigou... Interroguei-a a medo,

E soube então, surpreso e alvoroçado,
Que os seus olhos haviam desvendado
O que eu na minha alma guardava: o meu segredo!

Delfim Guimarães
(Portugal 1872-1933)

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