A íntima cruzada da sua alma dispersa,
o sangue
insuportável, possuíam-no.
E era como um coro, rouco, gregoriano,
esse cavalgar perdido no deserto, esse amalgamar
de cruéis erros de cálculo, de posses
repetidas pela insónia.
Testava o tamanho do seu membro
como quem pretende contratar para si a morte
ou temia esse glandular inflado do desejo
nas sevícias da infância,
no corpo que cresce e só se repete na noite
numa fala só, isolada do mundo.
Tornado que foi público
o seu acesso ao sexo, a sua forma de estar por entre
a gente e nesse estranho lume caldeado,
tornaram-se os testículos
em sinais de fogo que pouco a pouco
se cobriam de água, impura,
magoada.
E depois disso, diz-se, nunca mais sorriu.
Armando Silva Carvalho
(Portugal 1938)
in O que foi passado a limpo (Obra Poética)
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