24 de abril de 2013

José Régio: Cântico



Num impudor de estátua ou de vencida,
Coxas abertas, sem defesa..., nua
Ante a minha vigília, a noite, e a lua
Ela, agora, descansa, adormecida.

Dos seus mamilos roxos-azuis, em ferida,
Meu olhar desce aonde o sexo estua.
Choro... e porquê? Meu amor, irreal, flutua
Sobre funduras e confins da vida.

Minhas lágrimas caem-lhe nos peitos...
Enquanto o luar a nimba, inerte, gasta
Da ternura feroz do meu amplexo.

Cantam-me as veias poemas nunca feitos...
E eu pouso a boca, religiosa e casta,
Sobre a flor esmagada do seu sexo.


José Regio
(Portugal (Vila do Conde) 1901-1969)
In 366 poemas que falam de amor
“org. Vasco Graça Moura”
Editor: Quetzal Editora

photo by Google

Sem comentários:

Enviar um comentário