15 de abril de 2013

Diz-me impropérios: Amadeu Baptista

Diz-me impropérios. Inunda-me de esperma
deixa que eu perca o meu olhar no teu
e o fogo húmido que vem do infinito
alastre do meu corpo a esse vergão

que na minha boca afundo.
Sugando-te persigo-te e sei que o êxtase,
bem mais que o teu caralho,
é a alma da vagina que pressinto

invadida de novo nesse instante.
Engolindo-te descubro a beatitude
e sou um anjo com sexo que te come

por toda a eternidade.
A queimadura alastra á minha face
e salva a minha cona para sempre -



Salva a minha cona para sempre.
salvando-a me proteges e redimes,
alvoroçando o lugar da açucena
que magnificamente arde entre o vermelho

cetim dos meus pentelhos.
Toma esse refúgio
e o vínculo indivisível desta pele
que aguarda a luz e a sombra da volúpia.

Por esse frenesim me perco toda
e molho a carne em que estivermos.
Por esse frenesim o que perdura

é o nome que tivermos
no fulminante instante da carícia.
A intensa nudez do nosso nome.


Amadeu Baptista
(Portugal 1953)
in A Construção de Nínive

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