23 de março de 2014

Alberto de Oliveira: Cheiro de espádua




Quando a valsa acabou, veio à janela, 
Sentou-se. O leque abriu. Sorria e arfava,
Eu, viração da noite, a essa hora entrava
E estaquei, vendo-a decotada e bela.

Eram os ombros, era a espádua, aquela
Carne rosada um mimo! A arder na lava
De improvisa paixão, eu, que a beijava,
Hauri sequiosa toda a essência dela!

Deixei-a, porque a vi mais tarde, oh! ciúme!
Sair velada da mantilha. A esteira
Sigo, até que a perdi, de seu perfume.

E agora, que se foi, lembrando-a ainda,
Sinto que à luz do luar nas folhas, cheira
Este ar da noite àquela espádua linda!




Alberto de Oliveira
Brasil (Rio de Janeiro) 1859-1937
“ in Cinco Séculos de Poesia –
Antologia da Poesia Clássica Brasileira “
Seleção: Frederico Barbosa
Editor: Landy Editora

Sem comentários:

Enviar um comentário