17 de março de 2014

Luis de Gongora: A doce boca




 A doce boca que a provar convida
um humor entre pérolas brotado,
sem invejar esse licor sagrado
que a Júpiter ministra o moço de Ida,
amantes, não toqueis, se quereis vida;
pois, entre um lábio e outro purpurado,
qual entre flor e flor serpe escondida.
Não vos mintam as rosas que à Aurora
direis que, aljofaradas e olorosas,
tombaram do purpúreo seio pleno;
são as maças de Tântalo, não rosas
que irão fugir do que incitam agora,
e somente do Amor fica o veneno.



Luis de Gongora
Espanha 1561-1627
 in “Antologia da Poesia Espanhola
das Origens ao Século XX”
Selecção: José Bento
Editor: Assirio & Alvim
 










 

Sem comentários:

Enviar um comentário