3 de maio de 2014

Francisco Brines: A Piedade do tempo

Em que escuro recanto do tempo que morreu
vivem ainda,
a arder, aquelas coxas?


                   Dão luz ainda
a estes olhos tão velhos e enganados,
que voltam agora a ser o milagre que foram:
desejo de uma carne, e a alegria
do que não se nega.


A vida é o naufrágio de uma obstinada imagem
que já nunca saberemos se existiu,
pois só pertence a um lugar extinto.




Francisco Brines
Espanha (Oliva,Valência) 1932
in A Última Costa
Editor:  Assirio & Alvim
photo by google

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