15 de fevereiro de 2015

Eugénio de Andrade: Sobre a cintura

Deixa a mão
caminhar
perder o alento


até onde se não respira.

Deixa a mão
errar
sobre a cintura
apenas conivente
com o nácar da língua.


Só um grito desde o châo
pode fulminá-la.


A morte
não é um segredo
não é em nós jardim de areia.


De noite
no silêncio baço dos espelhos
um homem
pode trazer a morte pela mão.


Vou ensinar-te como se reconhece

repara

é ainda um rapaz
não acaba de crescer


nos ombros
                  a luz
desatada


a fulva
lucicez dos flancos.


A boca sobre a boca nevava.



Eugénio de Andrade
Portugal (Castelo Branco) 1923-2005
in Véspera da Água
Editor: Assirio & Alvim
photo by google

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