18 de abril de 2015

Diogo Bernardes: Onde porei meus olhos que não veja



Onde porei meus olhos que não veja
A causa, donde nasce meu tormento?
A que parte irei co pensamento
Que para descansar parte me seja?


Já sei como s’engana quem deseja,
Em vão amor, firme contentamento:
De que nos gostos seus, que são de vento,
Sempre falta seu bem, seu mal sobeja.


Mas inda, sobre claro desengano,
Assim me traz est’alma sogigada,
Que dele está pendendo o meu desejo;


E vou de dia em dia, de ano em ano,
Após um não sei quê, após um nada:
Que, quanto mais me chego, menos vejo.






Diogo Bernardes
Portugal 1520-1605
in Poemas de Amor
Antologia de Poesia Portuguesa
Editor: Publicações D. Quixote
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