25 de dezembro de 2015

António Feijó: Epílogo

Como um cativo, aqui te deixo, Pensamento,
As asas de oiro amarfanhadas,
Com o esforço que fiz de forma e sentimento,
Nestas estrofes mal rimadas...

Os meus olhos, a noite imensa perscrutando,
Viram-te belo e refulgente;
E ao teu contacto, a Alma em trevas, despertando,
Iluminou-se de repente.

A cadeia, que ao lodo obscuro a tinha presa,
Fundiu-se ao beijo que lhe deste;
E a alma liberta, ao sol da Graça e da Beleza,
Abriu, cantando, a asa celeste!

Descendo para mim doutras esferas, vinhas
Banhado ainda em luz sublime;
Via-te bem, sentia os encantos que tinhas,
Mas a palavra não te exprime.

E quem hoje te vê, n'estas imagens frias,
Encarcerado em duro engaste,
Nem por sombras supõe com que esplendor fulgias,
Quando aos meus olhos te mostraste!

Nem as outras visões que ficaram sem forma
Em nebulosa inconsistente,
A espera d'essa luz que ao vir de ti transforma
O pó da terra em oiro ardente...




António Feijó
Portugal, Ponte de Lima 1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “ seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel Machado
Editor: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
photo by Google

Sem comentários:

Enviar um comentário