13 de março de 2016

Delmira Agustini: O Inefável


Eu morro estranhamente....Não me mata a vida,
a morte não me mata, não me mata o amor;
morro de um pensamento silente qual ferida…
Não sentistes jamais a estranha dor

de um pensamento imenso que se arraiga na vida
devorando alma e carne, sem conseguir dar flor?
Nunca levastes dentro a estrela adormecida
Que vos abrasava todos e não dava um fulgor?

O cume dos martírios...! Levar eternamente,
dilacerante e árida, a trágica semente
como um dente feroz nas entranhas cravada!...

Mas arrancá-la um dia na  flor que, salvadora
e  inviolável, se abrisse... Ah! maior não fora
ter a cabeça de Deus entre as mãos levantada!



Delmira Agustini
Uruguai, Montevidéu 1885-1914
Trad. José Bento
in Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro
Editor: Assirio & Alvim
photo by Google

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