31 de maio de 2022

Julio Flórez: Flores negras

 

Ouve: sob as ruínas das minhas paixões.
e no fundo desta alma que já não alegras,
entre a poeira de sonhos e de ilusões
jazem intumescidas as minhas flores negras.

Elas são a lembrança daquelas horas
em que presa nos meus braços adormecias,
enquanto eu suspirava pelas auroras
dos teus olhos, auroras que não eram minhas.

Elas são as minhas dores, feitas botão;
as dores intensas que nas minhas entranhas
sepultam as suas raízes, qual fetos
nas húmidas fendas das montanhas.

Elas são os teus desdéns e censuras
ocultos nesta alma que já não alegras;
são, por isso, tão negras como as noites
dos gélidos polos, minhas flores negras.

Guarda, pois, este triste, débil ramo,
que te ofereço daquelas flores sombrias:
guarda-o, nada temas, é um despojo
do jardim das minhas fundas melancolias.




Julio Flórez
Colômbia, 1867-1923
in Um Pais Que Sonha - Cem anos de poesia colombiana
Editor: Assírio & Alvim
photo by Google

Sem comentários:

Enviar um comentário