16 de novembro de 2011

Proh Pudor

Todas as noites ela me cingia
nos braços, com brandura gasalhosa;
todas as noites eu adormecia,
sentindo-a desleixada e langorosa.

Todas as noites uma fantasia
lhe emanava da fronte imaginosa;
todas as noites tinha uma mania
aquela concepção vertiginosa.

Agora, há quase um mês, modernamente,
ela tinha um furor dos mais soturnos,
furor original, impertinente...

Todas as noites ela, ó sordidez!,
descalçava-me as botas, os coturnos
e fazia-me cócegas nos pés...

   Cesário Verde
  (Portugal 1855-1886)
  photo by Google

Sem comentários:

Enviar um comentário