Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

16 de novembro de 2011

Proh Pudor

Todas as noites ela me cingia
nos braços, com brandura gasalhosa;
todas as noites eu adormecia,
sentindo-a desleixada e langorosa.

Todas as noites uma fantasia
lhe emanava da fronte imaginosa;
todas as noites tinha uma mania
aquela concepção vertiginosa.

Agora, há quase um mês, modernamente,
ela tinha um furor dos mais soturnos,
furor original, impertinente...

Todas as noites ela, ó sordidez!,
descalçava-me as botas, os coturnos
e fazia-me cócegas nos pés...

   Cesário Verde
  (Portugal 1855-1886)
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