Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

24 de agosto de 2014

Betty Vidigal: Paixão Via Internet



Com lupa te examino e me detenho
em pequenas minúcias do teu nome;
na falta de um rosto para dar-te
identidade e singularidade
analiso cada letra e seus detalhes.

Sim o recurso da pele, eletrizante,
ao alcance dos dedos para o toque,
encontro encanto nas teclas do teclado
e acaricio as letras mansamente.

Não posso, olhos nos olhos, rir contigo:
estendo-te asteriscos. Outros códigos
servem de ponte, ligação, liame.

De qualquer forma, humamos são humanos,
sujeitos sempre às mesmas reações: 
respiração alterada, mãos mais frias
e ao ver-te entrar na sala, certo dia,
disparou-me o coração no mesmo choque
da adolescente de joelhos trémulos
diante do seu principe encantado,
tentando parecer indiferente.


Betty Vidigal
Brasil (São Paulo)
in Antologia de Poetas Brasileiros
Seleção: Mariazinha Congílio
Editor: Universitária Editora
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Fernando Luís Sampaio: Epicentro






















A sua doce presença trovejava mentiras
Na alegria de nos vermos morria
o sonho de mais tarde nos encontrarmos
num abraço.

O que dizia era o contrário da luz
que se desprendia da sua figura. De uma vida
feita aos poucos, a tua boca
merecia outra constelação.

O disfarce das sombras
que se moviam no seu espírito servia
de epicentro para mais uma partida.

Sobrevivia aos solavancos, tentado a
escapar ao destino, espécie de porta
giratória entre o céu e o inferno.



Fernando Luís Sampaio
Moçambique 1960
in Falsa Partida
Editor: Assirio & Alvim
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3 de agosto de 2014

B. de Barros: Rapsódia de Ouro Preto

O ouro ja não se encontra
mais à flor da terra
em ouro preto. Eu sei.
Vagueei a noite inteira
pela praça imensa
suspensa das ladeiras,
Marilia não achei
por entre a multidão
de peregrinos uma pepita
um grão sobre o lajedo
uma faísca à luz
inconvincente não vislumbrei
Marilia de ouro preto
madeixas nas janelas.
Em tempos idos quando
meninos e cabritos moravam
nestes morros, as flores de ouro
preto rolaram pelas serras
deixando a sua ausência,
Marilia, à flor da terra
oculta em grupiaras no
seio de aluviões. Entretanto,
Marilia, nesta noite
de ausência, sob a ponte
de pedra, do mais fundo
o riacho cantava o meu amor
à flor da terra toda de ouro preto
presente em seu barroco resplendor.



B. de Barros
Brasil; São Paulo
in Antologia de Poetas Brasileiros
Seleção: Mariazinha Congílio
Editor: Universitária Editora
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2 de agosto de 2014

Pedro Chagas Freitas: Silêncio que se vai amar



Silêncio que se vai amar
Todos os amores começam assim. No silêncio de um olhar, no
silêncio de uma mão dependente da outra, de outra mão vadia
a vaguear pela cidade nocturna do teu corpo, no silêncio dos lábios
trincados, trocados, massajados, abraçados e voltados a abraçar.
Todos os amores são silêncio estendido.

E todos os silêncios merecem o amor.
                                                                                    (Excerto)


Pedro Chagas Freitas
Portugal;Azurém,Guimarães 1979
in prometo falhar
Editor: Marcador
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