Penso no teu sexo
nomeio o teu sexo convoco-o
raio e falcão ou talvez algo mais doce
e menos literário
o teu outro coração em atropelo
que vai acendendo lumes
redimindo ás minhas sombras
Sentir o teu sexo amor a sua dura chuva
Mas nomear o teu sexo transforma em papel
a tua bela fúria cega
afasta-te do meu sexo que está triste
porque é solitária a noite
quando escrevo o teu sexo quatro letras
quando penso o teu sexo e o tempo abre
um parêntesis e estás noutro sitio
e atravessas outro rio.
Piedad Bonnett
(Colombia 1951)
in Um pais que chora - Cem anos de poesia colombiana
Carta de apresentação
O SECRETO MILAGRE DA POESIA
Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.
Excerto
in Rosa do Mundo
28 de janeiro de 2013
Porque é solitária a noite: Piedad Bonnett
27 de janeiro de 2013
O teu sono anoiteceu... : José Luis Peixoto
o teu sono anoiteceu mais que a noite
e hei-de escrever-te sempre sem que nunca
te escreva sei as palavras que fechaste
nos olhos mas não sei as letras de as dizer
ensina-me de novo se ensinares-me for
ir ter contigo ao teu sorriso ensina-me
a nascer para onde dormes que me perco
tantas vezes numa noite demasiado pequena
para o teu sono num silêncio demasiado fundo
dormes e tento levantar a pedra que
cobre e tento encontrar-te mais uma vez
nas palavras que te dizem só para mim
o teu sono anoiteceu mais que as mortes
que posso suportar e hei-de escrever-te
sempre e mais uma vez sozinho esta noite
José Luís Peixoto in A Criança em ruínas
(Portugal 1974)
e hei-de escrever-te sempre sem que nunca
te escreva sei as palavras que fechaste
nos olhos mas não sei as letras de as dizer
ensina-me de novo se ensinares-me for
ir ter contigo ao teu sorriso ensina-me
a nascer para onde dormes que me perco
tantas vezes numa noite demasiado pequena
para o teu sono num silêncio demasiado fundo
dormes e tento levantar a pedra que
cobre e tento encontrar-te mais uma vez
nas palavras que te dizem só para mim
o teu sono anoiteceu mais que as mortes
que posso suportar e hei-de escrever-te
sempre e mais uma vez sozinho esta noite
José Luís Peixoto in A Criança em ruínas
(Portugal 1974)
26 de janeiro de 2013
Vida : Augusto Branco
Já perdoei
erros quase imperdoavéis
Tentei
substituir pessoas insubstituíveis
E esquecer
pessoas inesquecíveis
Já fiz
coisas por impulso
Já me
desiludi com pessoas
Que nunca
imaginei que me desiludiriam
Mas também
desiludi alguém
Já abracei
para proteger
Já ri
quando não devia
Fiz amigos
eternos
E amigos
que nunca mais vi
Amei e fui
amado
Mas também
fui rejeitado
Fui amado
e não amei
Já gritei
e saltei de tanta felicidade
Já vivi de
amor e fiz promessas eternas
Mas também
me magoei muitas vezes
Já
telefonei só para ouvir uma voz
E
apaixonei-me por um sorriso.
Já pensei
que fosse morrer de tanta saudade
Tive medo
de perder alguém especial
(e acabei
por perder).
Mas vivi!
E ainda
vivo!
Não passo
pela vida.
E também
tu não deverias passar!
Bom é
lutar com determinação
Abraçar a
vida com paixão
Perder com
classe
E vencer
com ousadia
Porque o
mundo pertence a quem se atreve
E a vida é
muito para ser insignificante.
Vive!
Augusto Branco in Vida
(Brasil 1980)
Como o Touro: Miguel Hernández
e a dor, e como touro estou marcado
por um ferro infernal sobre o costado
e varão, nas virilhas como um fruto.
Como touro acha tudo muito diminuto
este meu coração desmesurado,
e, do rosto do beijo enamorado,
como o touro é que o teu amor disputo.
a língua em coração tenho banhada e,
no pescoço, um vendaval estouro.
Como o touro te sigo e te persigo e deixas
meu desejo em uma espada,
Como o touro burlado, como o touro.
Miguel Hernández
(Espanha 1910-1942)
O olhar: Miguel Godinho
pela embriaguez do momento.
Descobrira-lhe a inocência de repente
algures por entre o erotismo evidente
e a loucura feroz.
de nada lhe valia tudo
o que aprendera até então porque
o importante agora era apenas o olhar
desnudo e imoral numa bala
direita ao seu corpo
em busca de sangue
Miguel Godinho
(Portugal 1979)
Deus e Tu: Jorge Valência Jaramillo
Veio Deus e criou o céu e a terra
e a luz o dia e o homem.
Depois deteve-se, pensou um instante :
fez-te a ti.
E olhou-te fixamente, fixamente...
teve medo e disse para consigo:
"Eram mais seguros a noite e o caos"
Jorge Valência Jaramillo
(Colômbia 1933)
in Um País Que Sonha
Cem anos de poesia colombiana
Antes tu e eu éramos: Fu Hsiuan
Antes tu e eu éramos
um só, como o corpo e a sua sombra;
agora somos, tu e eu,
como a nuvem que foge após um aguaceiro.
Antes tu e eu éramos
como o som e o seu eco, acordes entre si;
agora somos, tu e eu,
como as folhas mortas caídas dos ramos.
Antes tu e eu éramos
como o ouro e a pedra, sem mancha nem fissura;
agora somos, tu e eu,
como uma estrela extinta ou um esplendor passado.
Fu Hsiuan
(China Sec. III)
um só, como o corpo e a sua sombra;
agora somos, tu e eu,
como a nuvem que foge após um aguaceiro.
Antes tu e eu éramos
como o som e o seu eco, acordes entre si;
agora somos, tu e eu,
como as folhas mortas caídas dos ramos.
Antes tu e eu éramos
como o ouro e a pedra, sem mancha nem fissura;
agora somos, tu e eu,
como uma estrela extinta ou um esplendor passado.
Fu Hsiuan
(China Sec. III)
Vingança: Jorge Valência Jaramillo
I
Talvez te espantes se te disser
que tenho um grande desejo
um desejo profundo:
que o teu novo amante
te ame muito
muito mais do que eu.
II
Depois
terei o prazer de saber
que sofreu muito
muito mais do que eu.
Jorge Valência Jaramillo
(Colômbia 1933)
in Um País Que Sonha
Cem anos de poesia colombiana
que tenho um grande desejo
um desejo profundo:
que o teu novo amante
te ame muito
muito mais do que eu.
II
Depois
terei o prazer de saber
que sofreu muito
muito mais do que eu.
Jorge Valência Jaramillo
(Colômbia 1933)
in Um País Que Sonha
Cem anos de poesia colombiana
Desperta esta noite: Ono No Komachi
Desperta esta noite
pela maior solidão,
não posso deixar
de ansiar ardentemente
a vinda de um belo luar.
Terá o amor
de acabar em solidão ,
sem que vislumbremos
esse rasgão entre as nuvens
onde o luar enche o céu?
Pensei ter colhido
a flor do esquecimento
só para mim mesma:
mas encontrei-a a crescer
também no coração dele.
Ono No Komachi
(Japão 834?)
in O Japão no Feminino I
pela maior solidão,
não posso deixar
de ansiar ardentemente
a vinda de um belo luar.
Terá o amor
de acabar em solidão ,
sem que vislumbremos
esse rasgão entre as nuvens
onde o luar enche o céu?
Pensei ter colhido
a flor do esquecimento
só para mim mesma:
mas encontrei-a a crescer
também no coração dele.
Ono No Komachi
(Japão 834?)
in O Japão no Feminino I
Sem você: Frederico Barbosa
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