Diz o filho: Oh! Minha mãe,
Debaixo daquela arcada
Passava-se a noite bem!
A cega que todo o dia
Tinha levado a andar,
A tais palavras do guia
Sentiu-se reanimar.
Mas saltam dois cães de gado,
Que eram como leões:
Tinha-os à porta o morgado
Para o guardar dos ladrões.
Tornam os pobres à estrada,
E aonde haviam de ir dar?
Ao palácio da tapada
Onde El-Rei ia caçar.
À ceguinha meio morta
Torna o filho: Oh! Minha mãe,
Ali no vão de uma porta
Passava-se a noite bem!
Se os cães deixarem… (diz ela,
A triste num sorriso amargo).
Com efeito a sentinela:
-“Quem vem lá?... Passe ao largo”.
Então ceguinha e filhinho,
Vendo a sua esperança vã,
Deitaram-se no caminho
Até ao romper da manhã!...
João de Deus
(Portugal 1830-1896)
in Campo de flores
in Campo de flores
Sem comentários:
Enviar um comentário