Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

12 de novembro de 2011

Nossa cama



Olho nossa cama. Palco vazio
sem o drama, sem a comédia,
do nosso amor.
A nossa cama branca,
branca página, em silêncio,
de onde tudo se apagou...

(Meu Deus! quem poderia ler aquelas ânsias, aquêles gemidos,
aqueles carinhos
que a mão do tempo raspou, como nos velhos
pergaminhos?...)

A nossa cama
imensa, como a tua ausência,
tão ampla, tão lisa, tão branca, tão simplesmente cama,
e era, entretanto, um mundo,
de anseios, de viagens, de prazer,
- oceano, que teve ondas e gritos encapelados,
nêle nos debatemos tanta vez como náufragos
a nadar... e a morrer...

Olho a nossa cama, palca vazio,
em nosso quarto, - teatro fechado –
que não se reabrirá nunca mais...

Nossa cama, apenas cama, nada mais que cama
alva cama, em sua solidão
em seu alvor...

Nossa cama
- campa (sem inscrição)
do nosso amor.

J G Araujo Jorge
(Brasil  1914-1987)
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