Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

27 de julho de 2014

Charles Baudelaire: A Musa Venal (Uma puta de musa)


Ó minha musa de meu peito, amante de palácios,
Quando Janeiro deixar seu Boreal, onde irás buscar
Para os serões gélidos de imagens negras
Brasas que aqueçam teus dois pés violáceos?

Sim atravessam as persianas os raios da lua
Mas tantos que aqueçam teus ombros nus?
Ou sentindo a bolsa vazia e ascético o palato
Contas com o ouro da celestial arquitectura?

O facto é que no teu ganha-pão nocturno
É mister dar ao turíbulo como um sacrista
Que canta loas divinas em que não crê.

Ou clow em jejum, por a nu as tuas nádegas
Enquanto com graças escondes as mágoas
Para gáudio, evidentemente, da rata da freguesia.


Charles Baudelaire
França; Paris 1821-1867
in As flores do mal
Editor: Relógio D'água
photo by google


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