Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

11 de novembro de 2011

Mário Sá-Carneiro: Como eu não possuo


 Como eu desejo a que ali vai na rua,
tão ágil, tão agreste, tão amor...
Como eu quisera emaranha-la nua,
bebê-la em espasmos de harmonia e cor!...


Desejo errado... Se eu a tivera um dia,
toda sem véus, a carne estilizada
sob o meu corpo arfando transbordava,
nem mesmo assim – ó ânsia! – eu a teria...


Eu vibraria só agonizante
sobre o seu corpo de êxtases dourados,
se fosse aqueles seios transtornados,
se fosse aquele sexo aglutinante...


De embate ao meu amor todo me roo
e vejo-me em destroço até vencendo:
é que eu teria só, sentindo e sendo
aquilo que estrebucho e não possuo.

rio Sá-Carneiro
(Portugal 1890-France 1916)
photo by Google

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