Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

28 de novembro de 2011

A Bela Infanta

Estava a bela Infanta
No se jardim assentada,
Com um pente de oiro fino
Seus cabelos penteava.

Deitou os olhos ao mar
Viu vir uma grande armada;
Capitão que nela vinha,
Muito bem a governava.

Diz-me, ó capitão
Dessa tua nobre armada,
Se encontraste meu marido
Na terra que Deus pisava;

Anda tanto cavaleiro
Naquela terra sagrada...
Diz-me tu ó senhora,
As senhas que ele levava;

Levava cavalo branco,
Selim de prata doirada,
Na ponta da sua lança
A cruz de Cristo levava;

Pelos sinais que me deste
Lá o vi numa estacada
Morrer morte de valente:
Eu sua morte vingava;

Ai triste de mim viuva,
Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho,
Sem nenhuma ser casada!...

Que darias tu senhora,
A quem o trouxera aqui?
Dava-lhe oiro e prata fina,
Quanta riqueza há por ai;

Não quero oiro nem prata
Não o quero para mim;
Que darias mais senhora,
A quem to trouxera aqui?

De três moinhos que tenho,
Todos os três tos daria a ti;
Um mói cravo e canela,
Outro mói o gerzeli:
Rica farinha que fazem!
Tomara-os El-rei para si;

Os teus moinhos não quero,
Não os quero para mim;
Que darias tu senhora,
A quem to trouxera aqui?

As telhas do meu telhado,
Que são de oiro e marfim;
As telhas do teu telhado,
Não as quero para mim;

Que darias mais senhora
A quem to trouxera aqui

De três filhas que eu tenho,
Todas três daria a ti,
Uma para te calçar,
Outra para te vestir,
A mais formosa de todas
Para contigo dormir;

As tuas filhas Infanta,
Não são damas para mim:
Dá-me outra coisa senhora,
Se queres que o traga aqui;
Não tenho mais que te dar,
Nem tu mais que me pedir;
Tudo não senhora minha,
Que ainda não te deste a ti;

Cavaleiro que tal pede,
Que tão vilão é de si,
Por meus vilões arrastado
O farei andar ai;
Ao rabo do meu cavalo,
Á volta do meu jardim;

Vassalos, ó meus vassalos,
Acudi-me agora aqui!...

Este anel de sete pedras
Que contigo reparti...
Que é dela a outra metade?
Pois a minha vê-la aqui!

Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!...
Deus te perdoe marido,
Que me ias matando aqui.

(Histórias Tradicionais Portuguesas)

1 comentário:

Anónimo disse...

É UM MACIMO ESTA HISTORIA RECOMENDO A TODOS QUE A LEIAM. ADEUS