Na sombra, o tenso corpo se adivinha
por atraído e trémulo, um temor
que é como suor cheirando a luz negra.
A pouco e pouco tocam-se os joelhos
por acaso fingidos e fugidios
até que um mais se encosta e se demora
e em pressões leves de alfabeto aflito
ansiosamente inquire: sim ou não?
A mão pousa na perna já contígua
e como distraída se desliza
à perna que responde.
Uma outra mão a toca
e a agarra súbita e ao lugar a guia.
Buscam os dedos uma entrada sós
em toques longos se afilam. Outros,
não prontamente, um pudor que excita,
um pouco ajudam e depois mão morta
inquietam-se fingindo alheamento
que deixe livre tudo mas culpada apenas
a mão toda apalpante e lívida na sombra.
Jorge de Sena
(Portugal 1919-1978)
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