24 de março de 2013

Do corpo repousado: Casimiro de Brito


Talvez a vida não seja luminosa
mas tem momentos: o lago da cama, o sol
Na lombada dos livros, o joelho
Amável
Da mulher deitada. Como vai ser a manhã
não sei, ergo a minha taça.

Amadurece o mar, mergulho na luz
E regresso a casa: a boca na maçã
À sombra do teu olhar, a música
Dos gatos, as tuas mãos que envolvem
As árvores do meio-dia. Sabor a terra,
Gota a gota, na minha língua.

Caminho na praia como quem sente
As peles sobrepostas do mundo em volta
Do meu corpo, coração de pó
E sento-me em repouso a ouvir a respiração
Do vinho. Talvez a noite não apague
Esta magia



Casimiro de Brito
(Portugal 1938)
in 69 poemas de amor

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