30 de março de 2013

Sutra: Claudio Daniel


             Para Reginabben

pálpebras de alfazema
cintilantes luas sem enigma
sob o céu anúbis-tânger-cicatriz
na seda cor de nuvem que simula o desejo
serpenteiam formas de dançarina moura
de seios tamarindo e lábios sabor anis
o seu púbis shiva kali irrompe como rosa
cítara que emudece o pensar do amante
e lhe toca o coração
no mais cálido êxtase de santos dervixes
mulher sem álgebra, sem mitologia, sem cabala
ou neurocibernética quântica
a mais-que-perfeita expressão do verbo
que resume à sua maneira shopenhauer
os manuscritos de Alexandria
os fabulosos cálculos dos astrónomos
e os acordes finais de um pianista de blues
dama feita para mim e o meu desejo de outro
que em tuas mãos é um leão domesticado
e no entanto és apenas uma mulher
deitada do lado esquerdo da cama.


Claudio Daniel
(Brasil 1962)
In “Os dias do amor”

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