Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

18 de janeiro de 2015

Eugénio de Andrade: SERENATA

Venho ao teu encontro a procurar,
bondade, um céu de camponeses,
altas árvores onde o sol e a chuva
adormecem na mesma folha,

Não posso amar-te mais,
luz madura, espaço aberto.
Não posso dar-te mais do que te dou:
sangue, insónias, telegramas, dedos.

Aqui estou, fronte pura, rodeado
de sombra, de soluços,  de perguntas.
Aceita esta ternura surda,
este jasmim aprisionado.

Nos meus lábios, melhor: no fogo,
talvez no pão, talvez na água,
para lá dos suplícios e do medo,
tu continuas: matinalmente.


Eugénio de Andrade
Portugal (Castlo Branco) 1923-2005
in As palavras Interditas!
            Até Amanhã
Editor: Assirio & Alvim
photo by google

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