
dos
cachalotes, é o espermacete que me embriaga a existência o
olor quase insuportável de tenebrosas orquídeas bordadas aos alicerces
ancestrais da casa a vegetação meticulosa, com suas seivas
lentas,
onde o corpo ou um inocente desejo se escondem os
tanques lavam roupa e os répteis esquivos parecem devastar o
sonho inundando-me a boca com densos venenos nas pálpebras, interrompe o musgo seu minúsculo crescimento respiram
bolores enquanto
as polposas flores chamam a si as zelosas abelhas
apesar
de tudo o corpo prepara-se para o grito é-me dolorosa a memória
daquele lugar de água luminosa só os dedos sujos de terra e
visco aprenderam a peregrinar sobre os intermináveis mapas percorreram
sobre a mesa
a rota dalgum albatroz perdido espremeram frutos,
que têm sabor a noite e trazem demorados amores
lembro-me,
facilmente esquecíamos os iridescentes berlindes os
tímidos mas rigorosos jogos de areia
nenhum
vento veio perturbar o sábio trabalho das mãos acendia-se
um fogo no centro daquela nova-idade, descobria-se um
tesouro em forma de rosto, estou certo de que nos amámos e
para o interior da terra descendo
há
um segredo e uma casa velhíssima, uma porta de alvenaria ou
o que resta de um atrevido espelho
a
fuga é ainda possível, dizias
estávamos
sentados frente ao lume, falávamos baixo
uma
salamandra lisérgica soltava-se de manhã, um vulcão extinto
evocava
outra longínqua solidão olhávamos o fogo e no mapa dos corpos
tínhamos ainda toda a Samatra por descobrir
Al
Berto
(Portugal
1948-1997)
In
O Medo
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