
Sim, pois que o sonho foi: que te gozava.
Quem, senão um amante que sonhava,
juntara a tanto inferno um céu tão belo?
Meu fogo com a tua neve e o teu gelo
- flechas que opostas tem na sua aljava -
juntava Amor, e honesto ele as juntava,
qual a minha adoração em seu desvelo.
Disse eu: "Queria o amor e minha sorte
que não durma eu jamais, se estar desperto;
se durmo, siga o sono, de tão forte."
Mas despertei do doce desconcerto;
e vi que vivo estive com a morte,
e morto estava com a vida, é certo.
Francisco Quevedo
Espanha 1580-1645
in Antologia Poética - Assirio & Alvim
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