Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

7 de junho de 2012

Fala entre as pernas: Armando Silva Carvalho


1.
Os deuses - como ve-los?
A mão sabe o latim e perdoa-vos tudo.
Eu olho a mão, de pé.
A vossa mão acesa no  calcanhar  da fé.
Mas vós, vibrai no vácuo.
Que a tarde  é terna e solta um animal
a morder-me a boca
Palavra musculada que ao penetrar
- sufoca.


2.
Sugai de cor essas pernas que gritam:
arcos de pó: de pé!
E o penis ressuscitam.
Tomai e comei o meu olhar em sangue.
Esta crina de putas
a rir - de fabulosas.
Lambei as patas quentes das aves sinuosas
As viciosas plumas que estremecem
nos lábios imbecis da vossa dor em fuga.


3.
Abri bem essa boca ao som rugoso
que me sai da boca.
Ao que sobe da língua
para pisar-me o sexo.
Sofrei  comigo - ó monstros
com todos os vossos poros
abertos no incesto.


4.
Deixai vir a mim os sequiosos.
Pelas amplas carnações alucinantes.
Pela lama lânguida
dos verbos esplendorosos.
Com a língua - fímbria
nas arestas da carne.
Assim dentro do ócio.
Até ao ossso.


Armando Silva Carvalho                                                                     in O que foi passado a limpo 
(Portugal 1938                                                                                 (Obra Poética) - Assirio & Alvim
Foto Google                                                                                                              

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