Os deuses - como ve-los?
A mão sabe o latim e perdoa-vos tudo.
Eu olho a mão, de pé.
A vossa mão acesa no calcanhar da fé.
Mas vós, vibrai no vácuo.
Que a tarde é terna e solta um animal
a morder-me a boca
Palavra musculada que ao penetrar
- sufoca.
2.
Sugai de cor essas pernas que gritam:
arcos de pó: de pé!
E o penis ressuscitam.
Tomai e comei o meu olhar em sangue.
Esta crina de putas
a rir - de fabulosas.
Lambei as patas quentes das aves sinuosas
As viciosas plumas que estremecem
nos lábios imbecis da vossa dor em fuga.
3.
Abri bem essa boca ao som rugoso
que me sai da boca.
Ao que sobe da língua
para pisar-me o sexo.
Sofrei comigo - ó monstros
com todos os vossos poros
abertos no incesto.
4.
Deixai vir a mim os sequiosos.
Pelas amplas carnações alucinantes.
Pela lama lânguida
dos verbos esplendorosos.
Com a língua - fímbria
nas arestas da carne.
Assim dentro do ócio.
Até ao ossso.
Armando Silva Carvalho in O que foi passado a limpo
(Portugal 1938 (Obra Poética) - Assirio & Alvim
Foto Google
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