caminhar
perder o alento
até onde se não respira.
Deixa a mão
errar
sobre a cintura
apenas conivente
com o nácar da língua.
Só um grito desde o châo
pode fulminá-la.
A morte
não é um segredo
não é em nós jardim de areia.
De noite
no silêncio baço dos espelhos
um homem
pode trazer a morte pela mão.
Vou ensinar-te como se reconhece
repara
é ainda um rapaz
não acaba de crescer
nos ombros
a luz
desatada
a fulva
lucicez dos flancos.
A boca sobre a boca nevava.
Eugénio de Andrade
Portugal (Castelo Branco) 1923-2005
in Véspera da Água
Editor: Assirio & Alvim
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