Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

8 de fevereiro de 2015

Filipe Marinheiro: ponho-me a amar dolorosamente...

ponho-me a amar dolorosamente
que nunca amei ou amarei
coisas secretas coisas que gemem endoidecidas nesta escrita
que navega para se manter acordada e ao mesmo tempo ausente
dos solenes gestos perdidos na cumplicidade das noites
sem luzes por se apagarem ou se acenderem

aves possuem as visões vivas da ardente paixão
e de repente cheio de suor danço com os dedos em cima da cara
rachando o vertical sangue a cuspe gelatinoso e espalho o veneno
das outras pessoas sobre a ideia sem um fim em si

depois cravo o meu corpo como quem molda um embrulho
de máscaras a enforcarem-se

mas subo radioso pelo peso da alma abaixo contorcendo-se
e ao cair para o inquietante ruído dos pés a atravessar as costelas
uma a uma cruzando-se

por dentro ato as vértebras que se rasgam lindamente
até sacudirem as cordas vocais

aí desprendo os dias dos seus filamentos de açúcar aonde pouso
a cabeça entre os teus peitos e desperto esta triste poesia
que tanto me aprisiona e ama


Filipe Marinheiro
Portugal > Coimbra 1982
in Noutros Rostos
Editor: Chiado Editora
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