escrevendo o que a vida me deixar. Eu sei que
cada palavra escrita é um dardo envenenado, tem a
dimensão de um túmulo, e todos os teus gestos são
uma sinalização em direcção à morte (…)
Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me
na fímbria do mar. Medito o meu regresso.
Possuo para sempre tudo o que perdi. E uma abelha
pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à
geada. (… Bebo, fumo, nau tenho-me atento, absorto
- aqui sentado junto à janela fechada. Ouço-te
ciciar amo-te pela primeira vez, e na ténue luminosidade
que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.
Recolho o mel, guardo a alegria e digo-te baixinho.
Apaga as estrelas, vem dormir comigo
no esplendor da noite do mundo que
nos foge.
Al Berto – Lunário (exerto)
(Portugal 1948-1997)
(Portugal 1948-1997)
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