Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

19 de outubro de 2011

Escuridão formosa: Gonzalo Rojas

À noite toquei-te e senti-te
sem que minha mão fugisse para lá da minha mão
sem que o meu corpo fugisse, ou meus ouvidos:
de um modo quase humano
senti-te.

A pulsar,não sei se como sangue ou como nuvem errante,
em minha casa, na ponta dos pés, escuridão que sobe,
escuridão que desce, cintilante, correste.

Correste por minha casa de madeira,
e abriste as janelas,
e senti pulsar a noite toda,
filha dos abismos, silenciosa,
                                                                                        guerreira tão terrível e tão bela,
                                                                                        que tudo quanto existe,
                                                                                        sem tua chama, não existiria para mim.

Gonzalo Rojas
(Chile 1917-2011)
photo by Google

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