Já sua força vale a de uma mão
Nestes papéis que trago para fora,
Que o campo dá certeza e solidão.
O calor fez a casa mais delgada,
Agora colho a tarde; a vida não.
Sou como a macieira carregada:
De palavras a mais cobri o chão.
Árvores há no Outono que conhecem
O toque e ardor das folhas de amanhã
E esperando-as, altas, adormecem.
Com espaço e vento nunca a vida é vã.
Eu volto à mão do Outono em meus papéis.
Penso e, indiscreto, o ar remove
Estas imagens cruéis
Que a minha vida comove.
Vitorino Nemésio
(Portugal 1901-1978)
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