Debruçada na águas de um regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava…
“ Ai não me deixes, não! “
“ Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão;
Límpido ou turvo, te amei constante;
Mas não me deixes não!”
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
“ Ai não me deixes não! “
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
“ Ai não me deixes não! “
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que não a deixasse, não.
Corrente impiedosa, a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
“ Não me deixas-te não “
Gonçalves Dias
(Portugal 1823-1864)
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