Uma noite eu me lembro... Ela
dormia
Numa rede encostada
molemente...
Quase aberto o roupão... solto
o cabelo
E o pé descalço no tapete
rente.
'Stava aberta a janela. Um
cheiro agreste
Exalavam as silvas da
campina...
E ao longe, um pedaço do
horizonte,
Via-se a noite plácida e
divina.
De um jasmineiro os galhos
encurvados,
Indiscretos entravam pela sala,
E de leve oscilando ao tom das
auras,
Iam na face trêmolos -
beijá-la.
Era um quadro celeste!... A
cada afago
Mesmo em sonhos a moça
estremecia...
Quando ela serenava... a flor
beijava-a...
Quando ia beijar-lhe... a flor
fugia...
Dir-se-ia que naquele doce
instante
Brincavam duas cândidas
crianças...
A brisa, que agitava as folhas
verdes,
Fazia-lhe ondear as negras
tranças!
E o ramo ora chegava ora
afastava-se...
Mas quando a via despertada a
meio,
P'ra não zanga-la... sacudia
alegre
Uma chuva de pétalas no seio.
Eu fitando esta cena, repetia
Naquela noite lânguida e
sentida:
" Ó flor! - tu és a virgem
das campinas!
" Virgem! - tu és a flor
da minha vida?...
Castro Alves
(Brasil 1847 - 1871 )
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