Como um cativo, aqui te
deixo, Pensamento,
As asas de oiro
amarfanhadas,
Com o esforço que fiz
de forma e sentimento,
Nestas estrofes mal
rimadas...
Os meus olhos, a noite
imensa perscrutando,
Viram-te belo e
refulgente;
E ao teu contacto, a
Alma em trevas, despertando,
Iluminou-se de repente.
A cadeia, que ao lodo
obscuro a tinha presa,
Fundiu-se ao beijo que
lhe deste;
E a alma liberta, ao
sol da Graça e da Beleza,
Abriu, cantando, a asa
celeste!
Descendo para mim
doutras esferas, vinhas
Banhado ainda em luz
sublime;
Via-te bem, sentia os
encantos que tinhas,
Mas a palavra não te
exprime.
E quem hoje te vê,
n'estas imagens frias,
Encarcerado em duro
engaste,
Nem por sombras supõe
com que esplendor fulgias,
Quando aos meus olhos
te mostraste!
Nem as outras visões
que ficaram sem forma
Em nebulosa
inconsistente,
A espera d'essa luz que
ao vir de ti transforma
O pó da terra em oiro
ardente...
António Feijó
Portugal, Ponte de Lima
1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “
seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel
Machado
Editor: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda
photo by Google
Sem comentários:
Enviar um comentário