1. Faz o menor número de confidências possível. É
melhor
não fazeres nenhumas, mas se fizeres algumas, fá-las
falsas ou imprecisas.
2. Sonha o menos possível excepto quando o
propósito
directo do sonho for um poema ou uma produção
literária. Estuda e trabalha.
3. Tenta ser o mais sóbrio possível antecipando a
sobriedade
do corpo por uma atitude sóbria da mente.
4. Sê amável apenas por simples amabilidade, não
abrindo
a tua mente ou discutindo livremente os problemas que
estão ligados à vida íntima do espírito.
5. Cultiva a concentração, tempera a vontade, faz
de ti uma
força pensando, o mais intimamente possível, que és
realmente uma força.
6. Considera quão poucos amigos verdadeiros tens,
porque
poucas pessoas são capazes de ser amigas de alguém.
7. Tenta cativar por aquilo que o teu silêncio
contém.
8. Aprende a agir prontamente nas pequenas
coisas, nas
coisas triviais da vida da rua, da vida doméstica, da vida
do trabalho, a não tolerares atrasos vindos de ti próprio.
9. Organiza a tua vida como uma obra literária,
pondo nela
tanta unidade quanta possível.
10. Mata o Assassino.
Fernando Pessoa
Portugal 1888-1935
in Prosa Intíma e de Autoconhecimento
(Reflexões pessoais)
(Reflexões pessoais)
org. Richard Zenith
Edit. Assirio & Alvim
photo by Google
2 comentários:
EM um primeiro olhar, o seu blog é interessante. Mas atribuir essas afirmações a Pessoa é no mínimo inverossímil. Quem afirma é Bernardo Soares, na obra Livro do Desassossego. O que ele diz, além de não poderem ser atribuídas ao Pessoa, não possuem muita relação com essas "regras" que você reproduz em seu blog. Ao que pesquisei, isso que você reproduz são afirmadas por um autorizinho de quinta que escreveu um livro "Economia e(m) Pessoa", muito provavelmente querendo lucrar as custas de um grande poeta. Segue o que está no Livro do Desassossego:
"NOTAS PARA UMA REGRA DE VIDA
Precisar de dominar os outros é precisar dos outros. O chefe é um dependente.
Aumentar a personalidade sem incluir nela nada alheio — nem pedindo aos outros, nem mandando nos outros, mas sendo outros quando outros são precisos.
Reduzir as necessidades ao mínimo, para que em nada dependamos de outrem.
É certo que, em absoluto, esta vida é impossível. Mas não é impossível relativamente.
Consideremos um dono de escritório. Ele tem obrigação de poder dispensar toda a gente; tem obrigação de saber escrever à máquina, de saber contabilidade, de saber varrer o escritório. Que a sua dependência dos outros seja, portanto, só uma necessidade de não perder tempo, e não uma necessidade da incompetência própria. Que diga ao praticante «Vá deitar esta carta ao correio» porque não quer perder o tempo que levaria a deitá-la no correio mas não porque não saiba onde é o correio. Que diga ao empregado, «Vá tratar deste assunto ali», porque não quer perder o tempo de o tratar, mas não porque não saiba tratá-lo."
Livro do Desassossego. Vol.I. Fernando Pessoa. (Organização e fixação de inéditos de Teresa Sobral Cunha.) Coimbra: Presença, 1990.
- 227.
Olá Gaill,
Obrigado pelo comentário.
Todos os trechos de Pessoa inseridos neste blog foram extraídos das edições de
Rui Zenith, publicadas pela Assirio & Alvim, única editora em Portugal especializada em poesia. Certamente sabe que o primeiro grande biógrafo da obra de Pessoa foi João Gaspar Simões nos anos 50.Mais tarde surgiu Teresa Sobral Cunha que fez uma ótima edição do Livro do Desassossego.
Num passado recente Rui Zenith, escritor premiado pela sua obra pessoana.
Em 2012 foi publicado aquela que é para mim a mais completa autobiografia de Pessoa,(Fernando Pessoa, uma quase autobiografia) do escritor brasileiro João Paulo Cavalcanti Filho. Tive a oportunidade de falar com ele e indicar-lhe a melhor editora para publicar.
Foram oito anos de pesquisa para que nada falhasse. Recomendo.
Pessoa escreveu pela vida, cerca de 30 mil papéis. Antes de morrer o autor reuniu,num grande envelope com a inscrição “Livro do Desassossego” cerca de 300 trechos em variadíssimos estados de acabamento. Um ou outro parecem mesmo ter sido incluídos por engano, como é o caso de um manuscrito explicitamente atribuído ao «Drama Estático» A morte do príncipe, ou de um outro que se autoidentifica como parte integrante do Diálogo no Jardim do Palácio. Os vários textos “ Regra de vida” e também dois trechos “Notas para uma regra de vida” não estavam incluídos, daí estarem incluídos em Prosa Intima e de Autoconhecimento.
Saudações poéticas
cantodaalma
in Zenith,Rui- Livro do Desassossego
Zenith,Rui- Prosa Intima e de Autoconhecimento
Editora Assirio & Alvim
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