
A
lua projetava o seu perfil azul
Sobre
os velhos arabescos das flores calmas
A
pequena varanda era como o ninho futuro
E
as ramadas escorriam gotas que não havia.
Na
rua ignorada anjos brincavam de roda...
–
Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
Só
os perfumes teciam a renda da tristeza
Porque
as corolas eram alegres como frutos
E
uma inocente pintura brotava do desenho das cores
Eu
me pus a sonhar o poema da hora.
E,
talvez ao olhar meu rosto exasperado
Pela
ânsia de te ter tão vagamente amiga
Talvez
ao pressentir na carne misteriosa
A
germinação estranha do meu indizível apelo
Ouvi
bruscamente a claridade do teu riso
Num
gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
E
ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
Tão
mais doce que o mel dourado dos teus olhos
Que
ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
E
se escorrer sobre os teus lábios como um suco
E
marulhar entre os teus seios como uma onda
Eu
chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
De
que me tivesses possuído antes do amor.
Vinícius
de Moraes
(Brasil
1913-1980)
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