Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

28 de novembro de 2015

Fleur Adcock: Mulher para Marido

Da ira para o poço do sono
Deslizas de repente. A calma
Cai em mim gradualmente, um nevão
Suave, uma capa leve para atordoar
Os nervos arrepanhados, durante algum tempo.

A tua cabeça na almofada virada para o outro lado;
A minha cara escondida. Mas debaixo da neve
Rebentos endireitam-se, o filamento verde
Ergue-se instintivamente. Não se duvide
Dessa virtude de determinação na carne insciente:
Entre os nossos corpos uma tepidez cresce;
As mãos mexem-se debaixo dos cobertores,
As tuas costas tocam o meu peito, as nossas coxas
Rodam para encontrar o lugar que conhecem.
A tua boca move-se sobre a minha cara:
Ousaremos, agora, abrir os olhos?



Fleur Adcock
Nova Zelândia, Auckland 1934
Trad. José Alberto Oliveira
in Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro
Editor: Assirio & Alvim
photo by Google

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