Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

30 de setembro de 2011

Recordação: Emily Bronte


Frio na terra – e sob tanta neve
Tão longe estás na tumba desolada!
De amar-te esqueci, sequer de leve,
Pelas águas do tempo separada?

Quando estou só, minh’alma não responde
Voando aos montes dessa costa do norte.
Nem fecha asas onde o verde esconde
Teu nobre coração dentro da morte?

Frio na terra – e quinze invernos foram
Aí, nos pardos montes, Primavera:
Fiel é uma alma que as lembranças douram
Após tanta mudança que sofrera!

Ó doce Amor, perdoa, se eu te esqueço.
Ida que vou nesta maré do mundo;
Desejos me distraem, que aborreço,
Mas nenhum deles é que tu mais fundo.

Que luz brilhou no meu azul celeste,
Ou nova aurora para mim raiou?
O bem da vida é o bem que tu me deste,
O bem da vida em ti se consumou.

Mas quando de áureos sonhos suou o regresso
E já nem Desespero me vencia,
Eu aprendi como o existir tem preço,
E quanto val’viver sem alegria.

E as lágrimas sequei do amor inútil –
Calei minh’alma de por ti ansiar,
E dura lhe neguei esse ardor fútil
De em tumba mais que minha me deitar.

E enlanguescer não ouso mais agora,
Nem dar-me à dor extasiada de lembrar-te:
Bebi de mais divina angústia outrora –
Em que vazio mundo hei-de encontrar-te?

Emily Bronte
(England 1818-1848)
photo by Google

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