
A noite
─ Como ela vinha!
Morna, suave,
Muito branca, aos tropeções,
Já sobre as coisas descia,
E eu nos teus braços deitado
Até sonhei que morria.
E via ─
Goivos e cravos aos molhos;
Um cristo crucificado;
Nos teus olhos,
Suavidade e frieza;
Damasco roxo poído,
Mãos equálidas rasgando
Os bordões de uma guitarra,
Penumbra, velas ardendo,
Incenso, oiro, ─ tristeza!...
E eu, devagar, morrendo…
O teu rosto moreninho
─ Tão formoso!
Mostrava-se mais sereno,
E, sem lágrimas, enxuto;
Só beijámo-nos doidamente…
─ Era dia!
E os nossos corpos unidos
Como corpos sem sentidos,
No chão rolaram, e assim ficaram!
António Botto
Portugal (Concavada, Abrantes) 1897
Brasil (Rio de Janeiro) 1959
in Canções e outros poemas
Editor: Edições
Quasi
photo by google
Sem comentários:
Enviar um comentário