Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

21 de fevereiro de 2014

Federico García Lorca: Cacida da mulher deitada


























O ver-te nua é recordar a Terra,
a Terra lisa, limpa de cavalos.
A Terra sem um junco, forma pura
ao futuro cerrada: confim de prata.

Ver-te despida é perceber a ânsia
da chuva a procurar um débil talo,
ou a febre do mar de rosto imenso 
sem encontrar a luz da tua face.

O sangue soará pelas alcovas
e virá com espadas fulgurantes,
mas tu não saberás onde se esconde
o coração do sapo ou a violeta.

Teu ventre é uma luta de raízes,
teus lábios, aurora sem contorno.
Sob as cálidas rosas de uma cama
os mortos gemem esperando turno.


Federico García Lorca
Espanha 1898-1936
in Antologia Poética – Trad. Eugénio de Andrade
Assírio & Alvim
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