Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

25 de maio de 2014

Jorge de Sena: Arte de Amar


Quem diz de amor fazer que os actos não são tão belos
que sabe ou sonha de beleza? Quem
sente que suja ou é sujado por fazê-los
que goza de si mesmo ou de alguém?

Só não é belo o que não se deseja
ou que ao nosso desejo mal responde.
E suja ou é sujado que não seja
feito do ardor que se não nega ou esconde.

Que gestos há  mais belos que os do sexo!
Que corpo belo é menos belo em movimento?
E que mover-se o corpo no de um outro o amplexo
não é dos corpos o mais puro intento!

Olhos se fecham não para ver
mas para o corpo ver o que é que eles não,
e no silêncio se ouça um só ranger
da carne que é da carne a só razão.




Jorge de Sena
Portugal; Lisboa 1919
Santa Barbara; Califórnia 1978
in Antologia Poética
Editor: Guimarães Editores
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